domingo, 16 de julho de 2006

A queda de um anjo

[artigo de opinião de Manuel Sequeira publicado no Região de Cister de 13 de Julho 2006]

As últimas intervenções do chefe do executivo camarário nazareno denotam um acentuado grau de irritabilidade pouco próprio de quem está à frente de uma autarquia há tanto tempo.

O último episódio dessa prepotência teve lugar na assembleia municipal de 30 de Junho, em que o líder da comarca deu um autêntico recital catalogando os deputados municipais, bancada do PSD incluída, como autênticos mentecaptos, incapazes de descortinar que o implemento de “assessores” é um bem maior e que advém de atitudes filantrópicas dos seus mentores e executores. Para além disso, o chefe do executivo insiste em demonstrar a sua sapiência em matéria de grande relevância para o concelho. A teoria do saco de plástico e da perigosidade que aquele objecto pode representar para a segurança pública, em matéria de saneamento básico “roubou” à assembleia uma belíssima meia hora.

O chefe do executivo já não suporta as interpelações da oposição, é certo. Comporta-se como se fosse detentor de uma clara e sólida maioria. Todos sabemos que o cargo provoca desgaste, mas também sabemos que quem se predispõe a avançar para mais um mandato tem que estar no pleno das suas faculdades.

A atitude do chefe do executivo merecia de toda a bancada uma medida energética, para que casos como aqueles que aconteceram a 30 de Junho, não voltem a repetir-se. E isto, porque a oposição vai sempre, dentro daquilo que são as regras democráticas, interpelar a acção executiva e não está para receber autênticos atestados de incompetências e muito menos ser destratada, como o fora.

A política tem regras e é dentro dessas regras que nos devemos balizar. Ao cansaço político devemos responder com moderação e se assim mesmo perdurar a fadiga, pede-se escusa ou em última instância vamos para novo acto eleitoral com novos actores.

Não podemos ter medo das acções e do confronto. O que devemos ter sempre presente é o gesto e nunca a arrogância, que se pode revelar má conselheira.

O chefe do executivo pode usar dos tiques políticos que quiser, até porque dispõe de uma confortável maioria simples, conferida em sufrágio local. É, segundo essa premissa que a sua política deve ser orientada e nunca segundo os “bitates” ofensivos, típicos de personalidades distantes daquelas que conhecêramos ao actual chefe do executivo.

Por muito que lhe custe existem abordagens resultantes da sua acção governativa que uma oposição que se preze não pode deixar de mencionar.

E se ainda assim, o verniz continuar a estalar, então a solução será lançar acetona e diluir a nódoa para se rumar para outras direcções.

O período de beatificação terá findado. O anjo que conhecêramos terá virado “diabo”?